Por:
Deroní Sabbi
Estamos vivendo um momento de mudanças na área da educação. Está
em execução um projeto do governo federal que beneficia milhares de escolas
brasileiras com financiamentos a longo prazo, com juro baixo, destinando oito
computadores/notebooks a cada escola, facilitando aos professores ter acesso a
esta nova tecnologia a prestações em torno de cem reais. Isto reflete uma época
em que os computadores cada vez mais acessíveis, a ampliação do acesso à
Internet e a criação de novos jogos eletrônicos educativos, especialistas
defendem que os docentes retomem um modelo pedagógico iniciado há mais de dois
mil anos e os professores.
Se a informação no universo tecnológico está a um clique, o professor pode
desaparecer? Na opinião de especialistas, a resposta é negativa. - O futuro
abrirá oportunidades para os professores. Vivemos num contexto de aprendizagem
permanente. As pessoas terão de estudar a vida toda - prevê o sociólogo Pedro
Demo.
Para participar desse novo mundo, o docente deverá superar a resistência às
tecnologias.
- Não adianta a escola ter equipamentos supermodernos se o professor não for
preparado para gerenciar essas novas situações de aprendizagem. Quando surgiu a
televisão, muitos disseram: "é o fim da cultura". Com a Internet, é a
mesma coisa. Em vez de amaldiçoá-la, precisam aproveitá-la ao máximo. O desafio
dos novos docentes é fazer com os estudantes ganhem autonomia para usar os
recursos modernos. Mutos especialistas em educação acreditam que o interesse
pela escola se restabelecerá quando os professores deixarem de apenas
transmitir conteúdos e orientarem os alunos para que descubram o conhecimento
por si próprios. O professor terá de despertar no estudante o desejo de
pesquisar na Internet, de ir a campo para pesquisas e discutir com a turma -
seja na sala de aula ou por meio de um programa de mensagens instantâneas como
o MSN. Este método foi usado pelo filósofo grego Sócrates - quase cinco séculos
antes do nascimento de Cristo - para estimular o aprendizado de seus
discípulos, diz Jailson Valin em recente artigo publicado em ZH. “Não
precisamos mais de um professor que copia, que repete, que é um papagaio,
porque a parabólica e o DVD já fazem isso” - diz Pedro Demo, docente do
Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília e autor do livro
Professor do Futuro e Reconstrução do Conhecimento. Eles concordam com muitos
especialistas acham que com uso da Internet, alunos superam o desempenho
esperado, que dizem: - Sempre que pesquisam na Internet, eles descobrem mais do
que a gente pede. Nem sempre se precisa de máquinas para que os estudantes se
envolvam no aprendizado: uma visita à Serra para estudar o relevo também
permite que eles façam descobertas. Precisamos nos sintonizar com o mundo
deles. Muitos professores já fazem isto, e já utilizam o laboratório de
informática da escola buscando uma adaptação às novas possibilidades do ensino.
É claro que o professor deve conhecer e estar familiarizado o suficiente com a
internet para conduzir o processo e evitar o mau uso das tecnologias, mas isto
não tira o seu valor nem deixa de ampliar suas posssibilidades.
Algumas tendências a respeito da escola do futuro já referidas por
especialistas como Silvia Fichmann, coordenadora de laboratório da Escola do
Futuro da Universidade de São Paulo (USP), Pedro Demo, professor do
Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília, Hamilton Werneck,
pedagogo, Gabriel Perissé, doutor em Filosofia da Educação, Nihad Bassis,
especialista em projetos educacionais baseados em tecnologia, José Manuel
Moran, especialista em avaliação de cursos à distância, Nelsi Müller, secretária
da Educação do estado do RS - prevêem que a escola continuará sendo o principal
espaço para atividades de educação, mas empresas e outros locais ampliarão a
oferta de aulas. Cursos e lições à distância ganharão impulso com a
popularização da Internet e atenderão especialmente adultos. Quanto mais jovem
o aluno, mais tempo ficará dentro da sala de aula para aprender a conviver em
grupo.
Em vez da abordagem de disciplinas de forma isolada, os assuntos terão o
enfoque interdisciplinar, como ocorre hoje com os temas que transcendem uma
única matéria. As escolas, por orientação do Ministério da Educação, escolhem
temas, como trânsito, por exemplo, e procuram tratá-lo em diversas disciplinas.
As aulas se desenvolverão a partir de bases principais, nas quais se encaixarão
as atuais matérias: a filosofia, para estimular o pensamento e a criatividade,
a linguagem, para que o aluno aprenda a se comunicar, e matemática, para
desenvolver o raciocínio lógico.
Estas tendências apontam que em vez de evoluir por séries ou semestres, o
estudante terá a oportunidade de escolher mais cursos conforme seu perfil até
completar o número mínimo de horas. Esse processo se intensificará a partir do
Ensino Médio. Haverá aulas expositivas, nas quais o professor dialogará com os
alunos, mas o estudo será focado na troca de experiências e na realização de
pesquisas online. O professor estimulará a organização de projetos para que o
estudante desenvolva habilidades consideradas fundamentais no início do novo
milênio. O objetivo é que ele identifique problemas, pesquise, tome decisões e
se comunique com eficácia. Em vez de estudar em um espaço fixo, o estudante se
deslocará para diferentes laboratórios, conforme a lição e os recursos
tecnológicos necessários a um determinado aprendizado.
O Professor terá um novo papel, que vai além de apenas transmitir
conhecimentos. Ele orientará e motivará os alunos. Os alunos acompanharão
lições por meio de recursos audiovisuais, em vez do tradicional quadro-negro.
Eles passarão a freqüentar ambientes virtuais, onde farão simulações. Por meio
delas, o estudante reviverá situações históricas, participará de julgamentos em
tribunais ou até se transformará num personagem de um romance, como num jogo
educativo tipo RPG, por exemplo. Os alunos e professores usarão tecnologias
semelhantes ao E-mule, Torrent ou Kazaa, que permite a troca de músicas e
videos pela Internet, para a comunicação virtual. Pelo sistema, compartilharão
informações e aplicativos. Os estudantes terão a chance de rever uma aula, disponível
em vídeo, para revisar conteúdos. Também poderão consultar centros de materiais
educacionais, que terão atendimento online de tira-dúvidas e oferecerão aos
professores o aluguel de salas virtuais ou laboratórios específicos. Os livros
didáticos perderão importância, mas não desaparecerão. Servirão como uma
referência para consulta. Os professores, com a participação dos próprios
alunos, avaliarão muito mais processos do que resultados.
Tudo isto pode parecer assustador para alguém que utiliza métodos que mudaram
pouco através de muitos séculos mas agora marcham aceleradamente. Exige do
docente uma boa dose de flexibilidade e abertura, pois para acompanhar estas
mudanças precisa dia a dia reambientar-se num mundo de novos procedimentos,
novos recursos que é preciso ir dominando passo a passo numa atitude
predisposta para uma transformação positiva.